sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Professor Ênnio Amaral, um precursor na eletrificação rural no Brasil. – Segunda Parte.

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Segunda Parte - Do Aluno ao Professor

 Os tempos que se seguiram não foram fáceis, aquela gastrite evoluiu para uma ulcera que resultou numa cirurgia que lhe roubou 1/3 do estomago e que acabou deixando seqüelas para toda vida.
Em meio a esta tribulação, foi picado pelo cupido no trajeto entre Piratini, Remanso, Canguçu. O amor chegara para iluminar seu coração e sua existência, encontrara Dona Maria Ieda Sedrez Amaral, o amor de sua vida.

 Ênnio precisava dar o melhor para a família que iria constituir e balançava entre seguir trabalhando ou voltar aos estudos que desejava tanto.

O moço Ênnio Amaral se casa e resolve morar em Pelotas. A vida era dura, mas com ajuda do sogro e amigos de toda hora, a batalha feroz  era ultrapassada. E neste turbilhão vem chegando o primeiro herdeiro.
 Com o término da quarta série, Ênnio Amaral tem o rumo de vida alterado e muda-se para um local melhor onde daria uma qualidade de vida mais qualificada para a família. Chegara a vez do Professor Ênnio Amaral contratado como professor no dia 8 de abril de 1959.
Com o salário inicial curto as melhorias financeiras foram gradativas. Em 16/10/1962, tem uma mudança da direção da ETP, assumia como Diretor o Professor Ildemar Bonat. Suas dificuldades chegam ao conhecimento do novo Diretor da ETP. O Diretor logo simpatizou com aquele jovem professor de oficinas e resolveu ajudá-lo.
Diretor Bonat não sabia, mas o Grande Espírito da Mãe ETP descia sobre ele e quando isso ocorria, até os Céus conspiravam a favor.
Bonat convida-o para lecionar também eletrotécnica, existia certa carência de profissionais qualificados para tal empreitada naqueles tempos. Ele sempre agradeceu a ajuda do seu diretor que sempre se preocupou com ele.
O jovem professor Ênnio leciona com afinco de manhã e a tarde. A noite se qualifica fazendo o curso de formação de professores do primeiro ciclo (O curso teve início em 9 de setembro 1965 e término em 31 de agosto do mesmo ano, com carga horária de 550 horas. Esse curso fazia parte do Programa Intensivo de Preparação da Mão de Obra Industrial (PIPMO), criado no Governo de João Goulart, pelo Decreto n.o 53.324, de 18 de dezembro de 1963, e regulamentado pela portaria do MEC n.o 46, de 31 de janeiro de 1964.).
Era bom professor, mas precisava enfrentar os desafios daqueles alunos curiosos e sedentos de saber. Foi necessário se qualificar mais ainda.  Começou a cursar, no turno da noite, o Colégio Técnico Industrial – Curso de Eletrotécnica, 2.º Ciclo –, no ano de 1967, formando-se em 1969.

ETP foto aérea nos anos 60;


Foto da fachada da ETP em 1962;

Consta que é a mesma imagem de 1945.

Professor Ênnio era um estudioso dos assuntos que se relacionasse a eletro- mecânica, se atualizando com livros, revistas e artigos técnicos. Era do seu conhecimento que, em outros países, tais como os Estados Unidos, Canadá, Inglaterra (desde 1946), Alemanha, União Soviética, Nova Zelândia, Austrália, utilizavam-se cabos de aço nas redes elétricas de distribuição em alta tensão, inclusive sem galvanização, e algumas estavam operando mais de 30 anos. As redes, nesses países, em sua maioria, eram de dois ou três condutores, com todos os acessórios normais em forma padrão para a eletrificação rural, ou seja: cabos de aço trançados com 3 ou mais fios, chaves fusíveis, cadeia de isoladores, postes de madeira tratada, de aço ou de concreto, entre outros, sendo que o uso de redes MRT era mais destinado a ramais.
Professor Ênnio sabia como homem do campo, dos altos custos de levar energia elétrica de um determinado alimentador para a zona rural. Nas cidades, um único ramal de alimentador fornecia energia para milhares de lares, comércio e Indústria, os custos eram competitivos, mas para o campo não era bem assim. Angustiava-se em ver o trabalhador rural ter iluminação a base lampião a gás ou querosene. Trator para gerar tarefas domésticas e de campo, um atraso que o mestre queria ajudar a resolver. Então entre uma aula e outra ele ficava inventado, experimentado novidades, um dos seus hobbies era a mecânica automotiva.
Em casa até reparos de carros realizava uma forma também de complementar a renda, suas idéias tinham um custo e tudo era feito por ele. Muitas visitas a ferros velhos atrás de artefatos que ajudassem na construção de suas invenções..
Segundos amigos Ex Alunos ETP/ETFP, as dificuldades de um motor a diesel ligar no inverno o fizeram inventar uma vela resistiva, muito utilizada nos dias de hoje em motores diesel modernos.
Fotos de  velas aquecedora moderna

 Conta o colega Volni Abreu, um ex-aluno dele relata sobre a Vela incandescente para trator;
- Os tratores não davam partida quando a bateria estava fraca, então experimentou colocar uma resistência de lâmpada na ponta da vela do trator diesel. O mestre dizia que funcionava porque aquecia o combustível e facilitava a partida mesmo com bateria fraca e frio.

Professor Ênnio, já tinha construído uma casa em Pelotas e comprara um campo na região de Piratini onde fez sua Chácara e lá se tornou seu campo de experiências.

Outra contada pelo Volni Abreu;

- Disse que montou um trator só com peças do ferro velho (a qual a turma apelidou de “CAMICICLETA”), sendo que o tanque de combustível ele pegou duas bacias de dar banho em bebês antigo e soldou uma contra a outra.

Sérgio Viegas conta;
Também é de Autoria dele a Picape Kombi e a picape cabine dupla Kombi. Primeiro ele cortou a carroceria da sua velha Kombi, transformando em Picape, mas como ficou pequeno para a família ele voltou a mexer nela, transformando-a em mista. Picape cabine dupla, isso foi bem no inicio da década de 60, e as Picapes Kombi fabricadas pela montadora só ocorreram no inicio da década de 70. '
 Foto da Kombi Picape Kombi;

Era quase um Professor Pardal nosso querido Mestre.

 Sua filha, Virginia Amaral relata que a garagem de casa sempre foi oficina e não lembra de ver o pai sem nada fazer. Nos descansos era lendo jornal ou artigos técnicos. Dentro de casa, todos tinham que ter cuidado com potes, certa vez estava testando os potes de (clorofina) “Cloro”, no fogão a lenha, vendo a possibilidade de o material servir como isolador...

O que mais encantava os alunos eram suas tiradas e frases de efeito, agora sei onde Gilfredo sorveu o saber de suas frases de efeito rs...

Frases contadas pelos seus alunos;

Volni Abreu;

- Quem não sabe o que procura não percebe quando encontra, se referindo ao futuro profissional dos formandos.

Após retornar de Porto Alegre onde tinha participado de um curso por vários meses sobre relés disse;
- Acabo de perder o curso que fiz porque foi inventado o diodo, que vai substituir os relés. 

- É mais fácil comprar um veículo nas lojas de Pelotas que uma camisa. Numa alusão que gostava mais de carro que de roupa, deixando que a  patroa cuidasse da segunda.

- Melhor carro é Volkswagen, tenho um que só faço uma manutenção por ano e de vez em quanto vou para o sitio solíto no mais e não me deixa a pé.

Luiz Zaffalon, conta;
Certa feita fomos fazer uma aula pratica lá numa fazenda pros lados de Herval (O Valdir sabe o nome). Entramos no TL e o Hugo Enio Braz reclamou do espaço do banco traseiro, pois não cabiam as pernas. Ele olhou pra trás com aquela calma, voz pausada e disse:
 - Se dobrar as pernas nos joelhos, fica melhor.

Outra vez o Salagnac (acho), rebobinando um motor imaginou que aquele serviço iria demorar horas e horas. Tio Ênio chegou por perto e pergunto como ia o trabalho... Salagnac disse que ia bem, porém ia demorar uma Eternidade. Tio Ênio olhou pro guri e perguntou:
   - Tu sabes o que significa eternidade?
E complementou:
   - Um minuto na eternidade é o tempo necessário para uma andorinha, gastar um bloco de 1 m³ de pedra, afiando o bico na razão de uma vez por ano.
     Precisavam ver a cara do Salagnac.

Airton Bitencourt, conta;

-Nunca devemos gastar mais do se ganha e nem ganhar menos do que se gasta.
Outra dele;
Tudo que deve ser feito, merece ser bem feito.

Ronaldo Bondan, conta;

Professor Ênnio costumava falar que se o professor era autoridade máxima dentro da sala de aula, em sua aula ele autorizava fumar, o que era expressamente proibido na escola. Um dia resolvi testar e ele me autorizou. Foi só colocar o cigarro na boca e ele deu um jeito de sentar ao meu lado, conversou comigo e me fazer algumas perguntas, mas uma resposta era a que ele queria ouvir;
Seu Bondan o senhor já tentou deixar desse vício triste?
 Respondi sim, mas não consegui, sua intervenção foi imediata.
Eu tenho 2 côcos e consegui e o senhor tem 2 côcos também, porque não consegue? Eu fui homem para conseguir e o senhor será que é homem também? Vai ver que tem dúvidas ou não sabe!
 Em outras palavras mexeu com meus brios e ali decidi parar de fumar, para provar que era homem......... Tio Ênnio me tirou o vício de fumar só com palavras bem colocadas.

Valdir Souza, conta;

Certa vez quando fomos visitar o Engenho Pedro Osório, no conforto da TL, lá pras bandas da Tiradentes, passaram na nossa frente umas gurias bem faceiras: O Mestre não perdeu tempo e falou: "Belas moças, olho prá elas e não olho prá um cavalo". Nós, sabendo que vinha mais, ficamos quietos, só esperando. Mais adiante ele completou: “Pra que quero um cavalo, eu não tenho carroça".
Foto Volkswagem TL



Outra foi quando na aula dele um colega serrava uma peça de forma enlouquecida, rapidinho e usando só o centro da lâmina. O Mestre vendo aquilo chegou e calmamente explicou que o correto era serrar com uma velocidade menor e usando toda a lâmina para gastar por inteiro e não queimar por aquecimento. Depois da explicação ele saiu com mais uma pérola: "Duas coisas na vida o homem deve usar em todo o seu comprimento, uma delas é a lâmina de serra".

Mais duas:
"Duas coisas que eu não faço nesta vida: Pegar carona em modelo A e tomar banho em açude que tem tartaruga".

E a preferida do Madruga:
Dizia o mestre;
 -”Duas coisas que ninguém tira nesse mundo: Cheiro de CU e vazamento de motor Perkins".
Vou colocar só a foto de um motor perkins por obviedade rs...

Esta foi de mais rs... Como era espirituoso o mestre. Também para lidar com aquela turma de guris bagunceiros...

O grande legado técnico do Mestre Ênnio Amaral já estava a caminho, a Eletrificação rural de baixo custo, um tema para o próximo tópico.




Fontes; Grupo dos Ex-alunos ETP/ETFP no Yahoo Grupos e no Facebook

Família Amaral, meus agradecimentos a Virginia Amaral.

   



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