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Quando se pesquisa artigos
sobre a eletrificação rural de baixo custo, se encontra artigos técnicos
universitários, se encontra assuntos da Eletrobrás e do Ministério de Minas e Energia
falando de políticas públicas, se encontra defesa de tese para doutorados etc.
Pouco se fala de seu desbravador inicial, parece até ser da índole dos
brasileiros em dar mais valor às coisas produzidas no exterior do que aqui,
vide Padre Landell de Moura.
Mas um assunto sobre o tema
causou profundo mal estar, indignação na comunidade da ETP/ETFP/CEFET-Pelotas/ IFSUL,
quando um artigo publicado pelo jornal Zero Hora em 04/11/2011, sob o título Engenheiro gaúcho vence concurso
internacional.
A matéria faz
referência à premiação de 50 mil dólares, outorgada ao engenheiro Fábio Rosa,
pela The Tech Museum Of Innovation, em San Jose /Califórnia, por ter este desenvolvido um
projeto de eletrificação rural, usando, como condutor, arame de aço galvanizado
em substituição aos fios de alumínio e de cobre – tradicionalmente utilizados
nos sistemas de distribuição de energia elétrica.
Nenhuma palavra
sobre quem, realmente, iniciara os estudos no Brasil. A indignação foi tão
grande que um prócere Professor da comunidade da Escola Técnica Federal de
Pelotas contemporâneo do Professor, Ênnio Amaral, escreveu um artigo no Jornal Diário
Popular, um verdadeiro desagravo por não ter sido citado quem de direito.
O Prof. Gilfredo
Renck, acalmou a comunidade com o artigo;
“Eletrificação rural: enfim... a
injustiça”
Professor Gilfredo Renck (Fedoca
para os amigos) finaliza com as seguintes palavras:
“- A
omissão, pois, ao seu nome, é um fato deveras lamentável e, sobretudo, um
desrespeito a quem poderia ter usufruído economicamente do seu reconhecido
saber, mas tombou pobre, pois, para ele, a maior riqueza de um homem era a de
poder servir aos seus semelhantes – e o fez com valentia e honradez. Ainda é
tempo de restituir-lhe a justiça. Basta querer.“
Sem
desconsiderar o trabalho meritório do Eng. Fábio Rosa e seu parceiro Eng. Elétrico Ricardo Mello, que desenvolvem
um belo trabalho em energias alternativas como a solar e eólica, entendo que ele
deveria ter dito isso na época. Minimizou posteriormente em artigos se
referindo ao Mestre Ênnio Amaral, mas a verdade nua e crua, ele encontrou uma estrada
pavimentada, um caminho já aberto e desbravado como poderia ter a glória
suprema?
Este
tópico que escrevo, visa resgatar a historia de um dos Mestres da ETP, querido
por todos e chamado carinhosamente de Tio Ênnio. Mais que um Professor, um
típico ETEPEANO, pois foi aluno e estudou naquela grande instituição que foi a
ETP dos anos 50 /60. Uma escola dos sonhos para qualquer educador dos dias de
hoje. Se alguém pudesse fazer um comparativo, seria uma Escola Militar sem seu
extremo rigor e os CIEPS de Brizola e Darci Ribeiro. Uma Escola que tinha
alojamento, refeições gratuitas e formava cidadãos dignos, profissionais preparados
para enfrentar a vida e ajudar este País, cujo legado foi seguido pela
ETFP/CEFET-RS e IFSUL.
Origens:
Professor Ênnio de Jesus
Pinheiro do Amaral era natural de Piratini, nascido em 07 de abril de 1936.
Piratini-RS
Quando me referia a ser um
típico Etepeano, me referia à origem de quase todos que passaram por esta
grande instituição, ou seja, de muita dificuldade recursos escassos e sempre
vendo a luta dos pais para manter a família.
O jovem Ênnio, saindo do
interior, foi estudar na cidade de Piratini-RS a contra gosto do pai que
preferia os filhos trabalhando e ajudando em casa. Saiu cedo do
convívio familiar e graças ajuda das tias. Tia Pura (ele homenageou dando este nome
a filha mais velha) morou em Piratini de favor, até conseguir estudar
no colégio Ponche Verde e o tio Noquinha conseguir um emprego a ele
numa padaria.
Colégio ponche Verde
“Se
alguém pegar a história de qualquer ETEPEANO, seja ele um Presidente de alguma
empresa ou instituição, Diretor, Empresário bem sucedido, Profissional bem
sucedido e outros, veremos que elas se parecem muito.”
Para seguir os estudos só
tinha um local na região sul do Rio Grande do Sul, a cidade de Pelotas. Lá existiam
três instituições que davam abrigo para quem viesse das camadas menos
favorecidas da sociedade. O Abrigo de Menores, mantido pela Igreja Católica e
da comunidade local, A Escola Agrícola Visconde da Graça e da Grande ETP no centro
da cidade de Pelotas.
O jovem Ênnio veio a Pelotas
e escolheu a ETP, passando nos exames de admissão em 1953, existindo registros
de uma tentativa de ingresso em 1951.
A ETP era como uma Universidade nos dias de hoje e seu
ingresso era muito concorrido e difícil. Como interno, aos 17 anos, entrou no
Ginásio Industrial e mesmo assim faltavam recursos para material básico
escolar.
Coube a um grande amigo, Daltro D'avila, melhor
amigo desde infância, ajudá-lo fornecendo, os lápis folhas e
acessórios. Tio Daltro (este agradecimento ele fez dando o nome ao filho
mais velho), após formatura. * Relato de Virginia Amaral.
Abro um parêntese;
(Ah!
Meu querido e inesquecível Mestre sei bem o que isso e o que ocorria naquele
final dos anos 50 até metade dos 60. Um período de turbulência política, desemprego
e greves.
Meu
velho tinha ficado desempregado e só conseguia trabalho em engenhos e nas
fazendas para cortar arroz. Tempos muitos difíceis para todos. Recordo-me do
jovem J.A indo para o Felix da Cunha cursar o primário. Em pleno inverno,
quebrando geada, calçando chinelo de dedos e meias de manhã cedo. Lembro-me do
pequeno J.A indo às padarias mais baratas da região a procura de pão torrado
mais em conta. Lembro-me
do pequeno J.A ir aos açougues da região comprar osso para fazer sopa, pois o
dinheiro não dava para outra coisa. Lembro-me do pequeno J.A ir buscar uma
ajuda que a minha querida e saudosa Tia Maria mandava via ônibus de Santa Isabel,
um tarro de 5 litros
de leite duas a três vezes por semana e de vez em quanto, quando matava um
porco vinha uma banha dentro de uma lata cheia de pedaços de carne. Por fim me
lembro do jovem J.A ingressando na ETP, fazendo os lanches gratuitos na escola,
período em que não mais existia o internato. De usar camisa branca por quase 90
dias, pois não existia dinheiro para comprar o bonlon azul marinho do uniforme.
De usar sapato de plástico que dava um chulé danado, pois não existiam recursos
para comprar um sapato normal.
Igual
a minha e a sua história, esta cheio de ETEPEANOS e como disse, é a cara da
estirpe destes lutadores que venceram as dificuldades da vida, a qual tenho
orgulho pertencer).
Assim, na turma “D”,
Ênnio começou como aluno do Curso de Aparelhos Elétricos e
Telecomunicações, em regime de internato, passando para a 2.ª série do Curso
Industrial, que fazia parte do 1.º Ciclo.
O jovem Ênnio Amaral detestava
a semana da Pátria, pois tinha de marchar, e desfilar garbosamente como era
praxe na ETP. Era muito magro e arrumava artifícios para minimizar a exposição,
deixava todos os colegas irem à frente, onde as roupas mais ajustadas ficavam
bem e ele meio que se escondia no final do pelotão, sobrava uniforme ao magérrimo
jovem aluno, mas não faltava postura e orgulho.
Já naquele tempo uma gastrite incomodava o jovem ETEPEANO até se
transformar num ulcera, como veremos a seguir.
. No ano de 1954,
então cursando a 2.ª série, de acordo com ofício do médico José Dagoberto de
Moura, dirigido ao Diretor da Escola, Dr. Paulo Giorgis Brochado, o aluno Ênnio
de Jesus Pinheiro do Amaral foi acometido de uma colecistite aguda. Assim, por
sugestão do Serviço de Orientação Escolar, o jovem foi hospitalizado, com cura
temporária, sendo diagnosticado, também, como portador de uma duodenite, o que
requereu tratamento dietético e repouso.
O médico diz que
seria desaconselhável sua permanência como aluno interno,sendo oportuno seu
afastamento. Mas, caso ficasse como aluno externo, deveria fazer as
refeições fora da escola, devido aos cuidados alimentares necessários.
No despacho do
Diretor, encontramos: já foi combinado com o responsável sobre as refeições
fora da Escola, em 25/10/54.
Portanto, o Prof.
Ênnio foi acometido de doença que o tornava frágil fisicamente, mas não
o impediu de continuar seus estudos e, ainda no ano de 1955, de servir ao
Exército Brasileiro. Em 1956, voltou à Escola, após cumprir serviço militar, e
cursou a 3.ª série, à qual, além das disciplinas da 2.ª série,foi acrescida a
disciplina de Eletroquímica. No ano de 1957, cursou a 4.ª série,aprofundando os
conhecimentos das disciplinas da 3.ª série, formando-se nofinal daquele ano.
Foto dos alunos da ETP na Fazenda de Tio Ênnio Amaral;
Fontes:
Família Amaralem especial Virginia
Amaral.
Família Amaral
Fotos: Arquivo dos Ex alunos ETP/ETFP
J.A.
Tá ficando muito bom,parabéns.Augusto Köpp
ResponderExcluirO professor "tio Ennio" foi meu pai, de quem tenho grande orgulho e extremada admiração. Homem íntegro, pai amoroso e amigo, esposo fiel e dedicado à família. Deixou a todos nós muito mais que saudades, nossas vidas estão pautadas nos princípios nos passados, no curto tempo que estivemos juntos. Homem digno, fiel a suas convicções e de alma nobre, como poucos. Com tudo que passamos e temos visto, com relação ao trabalho desenvolvido durante sua vida, acredito que sua nobreza nos acomodou. Não era homem de buscar reconhecimentos e honrarias, muito menos "recompensas". O que ele fez através de seu brilhante trabalho de pesquisa e implantação, o fez por querer ver um povo sofrido, abandonado "as escuras", ter condições de manter-se no campo, produzindo nosso alimento, tão necessário em nossas mesas, e mantendo suas famílias unidas. O que mais ouvíamos era "precisamos combater o êxodo rural". O que ficou pra nós, filhos? Uma saudade eterna, um vazio tremendo que nada nem ninguém irá preencher. Gostaria sim, aproveitando essa brecha, de me colocar a disposição no que for necessário, e que esteja a meu alcance, para que esse site seja mais uma importante fonte de pesquisa, no que tange ao homem Ennio Amaral, pois acredito que profissionalmente, há competentes e valiosos professores que o conheceram muito bem. Parabenizo a iniciativa do senhor.
ResponderExcluirMuito obrigado Pura, a satisfação é toda minha e de toda comunidade dos Ex-alunos ETP/ETFP que me incentivaram a escrever este artigo.
ExcluirAgradeço pelas palavras carinhosas.
J.A.
Orgulho e saudade de quem nos deixou tão cedo mas deixou sua marca na sociedade e principalmente em nossas vidas!
ResponderExcluirE quando penso que está difícil, ele sempre será um dos referenciais de superação, garra e determinação! Homem integro, corajoso, determinado e ousado... Como gostaria de ter tido mais tempo para aprender com ele e ouvir histórias que hoje, mesmo relatadas por outras pessoas, me incentivam e encorajam!
Neta (orgulhosa) do "Tio Ênnio"
Quanto mais leio o teste escrito pela Pura, mais visualizo as histórias de infância que atentamente escutava e por vezes até mesmo redigia, estou me referindo dos momentos de sofrimento de meu avô Assis Pinheiro Amaral ( Cizinho ) com a perda de seu irmão do Ênnio Amaral, eu muito pequeno não sabia que a pessoa tão lembrada por meu avô, tratava-se de um jovem guerreiro necessitado de mais ensinamentos, que sairia do interior de Piratini para ser o precursor de uma invenção revolucionadora, embora não tenha o reconhecimento como merecia no momento, mas, hoje uma realidade, como passar pelo interior iluminado sem lembrar de seu feito!!! Pois bem hoje certamente os dois estão em algum lugar juntos apreciando seu feito e nós familiares saudosos, porém, convictos de que sua criação hoje é realidade....
ResponderExcluirMuito legal fiquei feliz e comovido tenho seu nome que para mim é motivo de orgulho queria o ter conhecido mas carrego um pouco de seu genio!!
ResponderExcluirParabéns Ennio,pelo pouco que lhe conheço é inegável saber que você erdou essa genialidade, grande abraço meu amigo
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