O Grupo Globo através do G1 também noticiou;
Falta de espaço
para lixo atômico pode desligar usinas de Angra 1 e 2.
Relatório enviado ao TCU diz que Angra 2 pode ser desligada em 2017.
Capacidade de armazenamento de combustível está quase esgotada.
Em relatório
enviado ao Tribunal de Contas da União (TCU), a Comissão Nacional de Energia
Nuclear (Cnen) aponta que o desligamento de Angra 2 pode ocorrer em 2017, e o
de Angra 1, entre 2018 e 2019. “Além disso, a entrada em operação de Angra 3
também poderá ser afetada”, diz o relatório.
O combustível
nuclear usado é armazenado inicialmente em piscinas no interior das próprias
usinas, o que deve ocorrer também em Angra 3. A capacidade dessas piscinas, no entanto,
estará esgotada em 2018 (Angra 2) e 2020 (Angra 1).
Para resolver o
problema de falta de espaço, uma unidade de armazenamento complementar (UFC)
deve ser construída dentro da área das usinas a um custo de R$ 577 milhões. A
previsão inicial é que ela entrasse em funcionamento em dezembro de 2017 e
garantisse o armazenamento do lixo até 2040. No entanto, o maior risco é que a
obra, que ainda não começou, não seja concluída a tempo.
De acordo com o
relatório, a Eletronuclear – empresa que opera as usinas – informou que “caso
haja atraso ou insucesso no processo de implantação e liberação” da unidade
complementar, “a produção de energia elétrica pelas usinas poderá vir a ser
prejudicada”. “Dessa forma, verifica-se que eventual atraso ou insucesso na
execução do cronograma de implantação da UFC constitui severo risco de
prejuízos financeiros, operacionais e de segurança para a Eletronuclear, uma
vez que a própria operação das usinas poderá ser paralisada”.
Ainda segundo o
documento, a probabilidade de que isso ocorra é “bastante alta” devido aos
processos de licenciamento e a contratação de terceiros para execução das
várias etapas do projeto, “sendo comum a ocorrência de atrasos em situações
desse tipo”.
Um depósito final
de rejeitos radioativos também (RBMN) também está em projeto e deve exigir
investimentos de R$ 261 milhões. Um cronograma de novembro de 2013 prevê a
entrada em operação desse depósito em 2019, mas o documento também aponta “alto
risco” de atraso. A Cnen afirma que está em fase de estudo para seleção do
local que abrigará esse repositório.
No documento,
aprovado pelo TCU no último dia 30 de abril, o órgão dá 90 dias para que a
Comissão Nacional de Energia Nuclear tome as providências necessárias.
A água emite luz
azul devido ao Efeito Cherenkov:
"Quando uma partícula carregada eletricamente atravessa um meio isolante a
uma velocidade superior à da luz neste meio, ela emite radiação eletromagnética
que pode ser na faixa visível. A esta radiação dá-se o nome de radiação de
Cherenkov (ou efeito Cherenkov). A luminosidade azul, característica de
reatores nucleares, deve-se à radiação de Cherenkov. O nome é em homenagem ao
cientista soviético Pavel Cherenkov, vencedor do Prêmio Nobel de Física de
1958, que primeiro caracterizou rigorosamente o efeito."
Reator, coração de
uma usina nuclear: local onde começa o processo de produção da energia elétrica.
Técnico da
Eletronuclear mede nível de radiação no reator da usina de Angra 2 durante
troca de combustível nuclear.
Empregados da
Eletrobras Eletronuclear saem de área controlada: profissionais utilizam roupas
especiais para o trabalho no edifício do reator.
O ciclo de como
guardar estes resíduos estão nesta outra reportagem da revista época publicada
em 2008:
Onde guardar o lixo nuclear?
Essa é a questão no Brasil. A
Finlândia, cujo projeto de depósito virou referência mundial, mostra que não há
solução simples
Marcela Buscato, de Olkiluoto,
Finlândia
A reação é microscópica: dentro dos dois reatores da central
nuclear de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, bilhões de núcleos de átomos de
urânio se dividem e geram 3% da eletricidade consumida no Brasil. Os resíduos
produzidos em duas décadas de operação são de uma ordem bem maior. Quase 446
toneladas de combustível usado – e radioativo durante milhares de anos. Até
hoje, esse material não tinha despertado a atenção dos brasileiros. Mas, com a
pretensão do governo de retomar seu programa nuclear, o problema apareceu. Há
planos para a construção de mais quatro a oito usinas no país. A retomada das
obras de Angra 3 já é dada como certa e, até o fim do ano, um comitê de
ministros deverá decidir quantas usinas mais serão construídas. Isso aumentará
a produção de lixo nuclear.
O problema não é exclusivamente brasileiro. Nenhum país do mundo
conta com um depósito definitivo em funcionamento. A solução encontrada até agora,
também a usada no Brasil, é guardar esse material dentro das piscinas especiais
nas centrais nucleares. É uma solução provisória, até que se encontre um meio
de armazenar o combustível usado. Mas que lugar e que tecnologias são
suficientemente seguros para garantir o isolamento de um material capaz de
emitir radiação em níveis letais por milhares de anos?
O Brasil deparou com essa questão pela primeira vez nas últimas
semanas, depois de 23 anos do início da operação de sua primeira usina nuclear.
O Ibama, órgão do Ministério do Meio Ambiente encarregado do licenciamento
ambiental, condicionou o início da operação de Angra 3, previsto para 2014, à
aprovação de um projeto de depósito definitivo. A Comissão Nacional de Energia
Nuclear (CNEN), que promove e fiscaliza a energia nuclear no Brasil, não
concordou com a exigência. E quis torná-la mais branda. Comprometeu-se a
apresentar até 2010 um modelo do que chamou de “depósito intermediário de longa
duração”. Isso significa que o combustível radioativo poderá ficar guardado por
500 anos, em vez de milhares de anos. Segundo a CNEN, o combustível dos
reatores, armazenado em estruturas metálicas com varetas contendo urânio, seria
colocado em cápsulas de aço e guardado em um depósito escavado em uma rocha ou
construído com paredes reforçadas de concreto.
A contenda entre o Ministério do Meio Ambiente e a CNEN expõe um
ponto delicado para a expansão do uso da energia nuclear no mundo. A Agência
Internacional de Energia Atômica aposta em um crescimento de mais de 20% na
geração desse tipo de energia nos próximos 20 anos porque ela é apontada como
uma das opções para frear o aquecimento global. Seu ciclo de produção quase não
gera gás carbônico, causador do efeito estufa. Mas a questão dos resíduos ainda
é um impedimento: além de despertar a rejeição da população, projetar e
construir um depósito definitivo encarece os custos da empreitada nuclear. Uma
das respostas mais promissoras está no subsolo gelado do extremo norte da
Europa. A Finlândia – país de apenas 5,2 milhões de habitantes, conhecido pela
agilidade de suas instituições e pelos baixos níveis de corrupção – recebe
todos os anos visitantes de diversos países interessados em seu projeto de
depósito.
A idéia é construir um sistema de túneis, a 500 metros de profundidade,
onde as varetas com as pastilhas de urânio seriam enterradas em cápsulas de
ferro fundido e cobre. O custo estimado de construção e operação, 3 bilhões de
euros, seria embutido na tarifa de energia paga pelos consumidores. O local já
foi escolhido: Olkiluoto, uma ilha na costa oeste do país, que parece ter
vocação nuclear. É lá que estão duas das quatro usinas finlandesas,
responsáveis por 25% da energia do país. Um terceiro reator está sendo
construído na ilha e há um projeto para a instalação de outro. Por isso, a
localização do futuro depósito é estratégica: facilita o transporte dos
rejeitos radioativos e ajuda na aceitação da população local, habituada à
vizinha nuclear, geradora de empregos desde o fim da década de 1970.
O depósito finlandês ainda está na fase
de pesquisa. Só começará a funcionar em 2020 – se cumprir os requisitos
ambientais
A Posiva, empresa responsável pelo futuro depósito, trabalha em
Olkiluoto desde 2004, escavando túneis usados como uma espécie de laboratório
subterrâneo, chamado Onkalo (buraco, em finlandês). No futuro, eles farão parte
do depósito final, servindo como túneis de acesso e ventilação. Por enquanto,
servem apenas como base para verificar se a região é segura para a construção
do abrigo. Só em 2012, quando o governo finlandês tiver analisado os dados
obtidos em Onkalo, vai decidir se dará a licença para a construção do depósito.
Se não houver imprevistos, o depósito começará a funcionar em 2020.
Apesar de ter se tornado referência internacional, o projeto
finlandês não é uma unanimidade. Ambientalistas questionam a segurança do
modelo e acusam a indústria nuclear finlandesa de vender internacionalmente a
idéia de que o depósito já está em construção, embora as obras sejam apenas
parte dos estudos. Isso seria uma estratégia de marketing para amenizar a
preocupação popular com os rejeitos nucleares e incentivar a implantação de
novas usinas. “A Finlândia está sendo usada como mascote para promover a
energia nuclear globalmente”, afirma Lauri Myllyvirta, coordenador da campanha
de energia do Greenpeace finlandês.
O modelo nuclear da Finlândia é considerado exemplar pela
Agência Internacional de Energia. A nova usina está sendo construída pelas
empresas distribuidoras de eletricidade, que recebem a energia a preço de custo.
Por isso, podem repassá-la para os consumidores com tarifas mais baratas. A
aprovação da população finlandesa a esse tipo de energia também é considerada
referência. A indústria nuclear no país faz pesquisas desde 1983 para medir a
aceitação popular, que só cresceu de lá para cá. Segundo a última pesquisa,
referente a 2007, 43% dos entrevistados apoiavam a construção do novo reator.
Mas até a simpatia dos finlandeses à energia nuclear é abalada quando o assunto
é o destino do lixo. A mesma série de pesquisas mostra que desde a década de
1980 quase a metade dos entrevistados acha que não é seguro enterrar o
combustível usado.
Antes de liberar a construção do depósito, o governo finlandês
levará em conta as preocupações de segurança dos ambientalistas. Teme-se que a
estrutura do depósito não resista aos milhares de anos necessários para que o
lixo nuclear se torne inofensivo porque a geologia costuma mudar naturalmente
em uma escala temporal tão longa. Na Finlândia, essa preocupação é agravada
porque o gelo escava a superfície do solo e modifica o fluxo dos lençóis
freáticos, que podem levar material radioativo para outras regiões. “O depósito
fica a menos de 100
metros do mar. Se houver um vazamento, o combustível
nuclear pode escapar para o oceano”, diz Myllyvirta, do Greenpeace.
A Posiva afirma que todas essas variáveis estão sendo
analisadas. “Não podemos prever o que acontecerá com o ambiente em milhares de
anos, nem ter certeza sobre como isso afetará as construções humanas”, diz Timo
Seppälä, porta-voz da empresa. “Mas nossos estudos mostram que, mesmo que
ocorram alguns vazamentos, não será em um nível nocivo ao meio ambiente.”
Desde a década de 1970, os EUA debatem
a construção de um depósito. E ele não ficará pronto antes de 2017
A incerteza sobre a integridade dos depósitos durante milhares
de anos explica por que ainda não há nenhuma construção desse tipo no mundo. No
Japão, Toyo, a única cidade que se candidatou a abrigar um depósito, em troca
de subsídios governamentais, voltou atrás em abril do ano passado. A Suécia,
que tem um projeto parecido com o da Finlândia, só deverá escolher o local do
depósito definitivo no ano que vem. A França estuda guardar o combustível
radioativo em um depósito na cidade de Bure, mas a previsão é de que a construção
comece depois de 2015.
O caso mais complicado é o americano. Desde a década de 1970, os
Estados Unidos estudam um local para enterrar o lixo nuclear espalhado por 126
instalações, em 39 Estados. Já foram gastos US$ 9 bilhões em pesquisas e na
construção de um túnel com 8 quilômetros de extensão e 300 metros de
profundidade, na Montanha Yucca, no Estado de Nevada. Até agora, os planos do
depósito não saíram do papel. Algumas das centrais nucleares americanas estão
esgotando a capacidade de suas piscinas para armazenar combustível. A usina de
Indian Point 2, no Estado de Nova York, está transferindo o lixo altamente
radioativo para pátios, onde é armazenado em contêineres de aço e concreto.
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